Por Alberto David
Vida atormentada
Saímos definitivamente da Rua Francisco Santos para um novo endereço, já mencionado em textos anteriores, dos infortúnios e as vicissitudes por que ali passamos . Para se ter uma idéia, o apartamento ficava nos fundos e, para chegarmos até ele , tínhamos de seguir por um corredor . Além disso, éramos obrigados a conviver com o mau cheiro e os insetos peçonhentos e com outros considerados inofensivos que vinham da fossa localizada no fundo do quintal.
Vivíamos ali, três adultos, com três crianças pequenas , numa situação precária.
Com os cabelos compridos, minha presença parecia ser motivo de vergonha e constrangimento para a família. O meu a atelier, se é que posso chamá-lo assim , era um pequeno cômodo de poucos metros quadrados que não dava para movimentar-me, a não ser um espaço para pôr o banco , o cavalete. Quando pintava, ficava muito agitado, andando de um lado para o outro a observar uma melhor perspectiva , uma posição melhor para ver as cores , uma melhor colocação dos elementos, enfim, uma expressão que deixasse a obra de uma forma que me satisfizesse. Ali pintei apenas dois trabalhos, em quase uma década, pela falta de espaço. Preferi dedicar-me aos desenhos e depois houve alguns problemas de saúde com o meu filho, já do conhecimento dos leitores destes textos , Um olhar para trás ; mas, em compensação, viria produzir com intensidade na próxima moradia .
Vem-me à lembrança “ A tragédia de minha vida “ , de Oscar Wilde, que revela uma escrita “desnuda”, numa linguagem clara , e é assim que gosto de dizer, de forma clara e verdadeira os fatos da minha vida artística. Um percurso que não foi fácil . Eu tive que percorrer um longo caminho , tortuoso e agreste , tendo uma pedra em cada curva e adversidades, que me foram sucedendo a cada jornada. É bem verdade que contei em minha travessia com importantes amigos , minha mulher e dentre eles o maior deles, Jesus , que me amparou nas descidas , nos trâmites de minha vida ingrata.
Por volta de l996 , trabalhava ao lado do meu pai, e era muito comum colegas meus passarem por mim e sorrirem dos macacões encharcados dos estrumes, oriundos das cargas do gado para o abate na região. Também cheguei a trabalhar no posto de gasolina e, durante o abastecimento dos caminhões a óleo diesel , acaba me sujando e os sujos de graxas e óleo diesel , naquele tempo usava o codinome de bombeiro, hoje é frentista. Ficava exposto a este vexame, mas não ligava. Nas horas vagas desenhava e escrevia meu pensamentos, nunca fui preguiçoso, sempre dei porrada na vida.. Trabalhava duro ali ao lado de meu pai , diga-se de passagem, uma linda amizade, mas que ia se deteriorar-se com o tempo. E só voltaria ,após um longo tempo … Afastamo-nos durante muitos anos , tentei de todos os meios me reaproximar de meu pai , já quase na fase final das crises, mas sentia que me esquivava , mesmo assim insistia, queria o seu amor de volta , trocávamos algumas idéias, não era, porém, como antes ,repito foi difícil , repito sentia que ele me evitava , por motivos óbvios , preocupado que viesse precisar de dinheiro, eu era um artista muito pobre ; mas não era nada disso, quem ia ali era meu coração, Deus sabe disso, e já deve ter falado com ele. Os que pensam ao contrário não me importa, e, depois, sabia que o carma que ora passava era meu .e tinha que perdoar. E, no final das contas, dei a entender que , Graças a Deus, era o afeto, motivo que o procurava. Na véspera de sua morte , Dia dos Pais, lembro-me, como se fosse hoje, que , ao dar-lhe os parabéns, disse a ele: “ O senhor é um homem de valor “ e sorrindo respondeu-me: “ Obrigado”.
Estava selada a amizade, como nos velhos tempo de amigos verdadeiros.
Naquele momento, saiu da sala e trouxe alguns documentos dentre os quais um documento original da Prefeitura, ou seja, que dava licença à sepultamentos e me disse: “Fique com ele, Bertinho (chamava-me assim), pode precisar e depois é difícil de procurar, porque é tanta confusão na hora para encontrar este papel “ . Eu fiquei atônico. Peguei o documento e o guardei em casa, para cumprir o pedido. Passados uns dois dias , ele partiu , em paz e sem sofrimentos inerentes à partida, a não ser uma única dor, proveniente de um infarto fulminante.
Voltando a trajetória artística, por volta de l980, estava na fazenda Jaqueira , que tanto amamos e onde vivenciamos grandes momentos de nossas vidas, não estava bem , apesar de minha lucidez . Vim para Conquista, para lançar mais um livro, “ O sonho de um guerreiro”, que, na verdade, não fiz para este fim , quando o escrevi , o fiz mais como terapia. Precisava pôr meus pensamentos em ordem . E, daquela bendita árvore, uma enorme Jaqueira que ficava ao lado da casa da sede da fazenda , comecei a pôr no papel os meus pensamentos que resultaram no livro, “O sonho de um guerreio”. Deus foi muito generoso comigo .
Antes dos anos 60, meu pai fecha o posto de gasolina. Fiquei sem chão, sem nada para fazer, gostaria de estar ali todos os dias. Foi como seu eu tivesse perdido um ente querido, pois ocupava a minha mente, que era muito fértil ali. “E agora José” ?
Acredito que daí, a falta do trabalho foi o início de minha ruína , fiquei sem rumo, gostava de ter compromissos, pois nunca fui preguiçoso e tinha como o hábito o trabalho . Parece que perdi a direção. E as coisas deram no que deram. Com a mente vazia, sem minha exposição permanente, que dava muito movimento, foi a parte pior , pois era muito feliz ali. O que fiz? Os leitores devem estar perguntando. Fiz do meu quarto de dormir um atelier improvisado, coloquei dois cavaletes e sobre eles uma rampa , tamanho em retângulo e comecei a trabalhar, aliás, tentei, pois minha mãe, não suportando a bagunça, chamou meu pai.
“Emilio, você precisa conversar com Bertinho, veja o que ele fez do quarto e mande-o tirar estas porcarias de lá”. O meu pai via aquilo sem incômodo. Ele via aquilo, se acostumava e gostava de me ver pintando; já diferente da minha mãe, sabe como é dona de casa, é dona da casa. Fiz o que ela quis, porém pintei uma parede com um Cristo crucificado , que tomou a parede toda. Quando ela o viu quase cai de gosta , e logo chamou meu pai: “Emílio! Emílio! Veja o que Bertinho fez aqui ?! “ Mas, para surpresa minha, o meu pai gostou , o contrário de minha mãe que achou um absurdo: “ Este menino está doente!” , esbravejou. No entanto, minha mãe gostava muito de meus pensamentos e, de todos os meus poemas, ela tinha predileção pelo “O desespero do mendigo” , pois achava-o o mais bonito que um poeta pudesse escrever. Chegou a declamá-lo em vários lugares, a Academia Conquistense de Letras, pequenos seminários e centros espíritas. Sabia o poema todo de cor. Quanto aos outros, não tinha a mesma admiração, pois achava que nenhum deles era capaz de superar o “O desespero do mendigo”.
Então, começaram os embates. Logo após “O sonho de um guerreiro”, meu pai começou a se opor a minha carreira : “ Como este rapaz pode se sustentar, fazendo estas coisas ? Viver de Filosofia!”, dizia inconformado . Eu sempre fui diferente de meus irmãos que seguiram mais a orientação de meu pai, negociante, sou o único artista da família, daí o baque.
Quanto aos meus livros, milhares e milhares de exemplares eram vendidos em mãos, pois as livrarias não gostavam de poetas da terra, e muito menos emergentes. Tinha que me virar ,distribuía para as livrarias; outros colocava debaixo do braço e ia à luta, viajava pelas cidades circunvizinhas para vendê-los aos prefeitos vizinhos. Muitos compravam por amizade ou pela admiração “daquele esforço sem limite “.
Que exaustão. Não tinha mais o apoio de meu pai, precisava procurar patrocínios e outros amigos para me ajudar no meu sonho.
Fui o único artista da família , a levar uma vida como um sacerdote, sem as riquezas , sem o conforto material … E assim fui peregrinando pela vida afora .
Com as crianças crescendo, tive de mudar o meu comportamento diante da vida , mas não a convicção de meus pensamentos e a arte , ninguém vive sem ela. O dinheiro não é tudo.
Ali no posto, sempre estava recebendo visitas de pessoas de fora e, como disse anteriormente, me distraía bastante , chamava a atenção de todos que por ali passavam , a exemplo do prof. Walter Levy, introdutor do expressionismo no Brasil , quando aqui , de passagem por esta cidade estimulou-me para prosseguir a carreira, convidando-me a estudar na Escola de Artes Pan-americana, em São Paulo, o quanto me arrependo de não ter ido para lá.
Publiquei 13 livros, não obstante as pessoas não imaginam “o duro que dei “ para colocá-los nas livrarias , os projetos requeriam muito de mim e, daí, vinham as canseiras e os esgotamentos, pois tudo era comigo - um polivalente. Realmente, só vim ter prestígio na minha terra após o meu sucesso lá fora , ainda assim , meu trabalho foi muito rejeitado,, sofria criticas e restrições, todas elas movidas à “ nojenta “ da inveja , parece um carma na minha vida.
Dentre os amigos que me ajudaram nesta fase tomando a minha dor, cito as palavras de Nilton Gonçalves representando os demais: “ têm – se manifestado contra a inclusão do poeta e artista Alberto David ; um poeta e artista , que tem sido apoiado lá fora especialmente em Salvador , tem dado entrevistas em jornais , emissoras de rádio e TV e indiretamente tem procurado elevar o nome no tocante ao setor cultural (…). Quantos desses filhos de vocação, famosos e inteligentes , em vida contribuíram para eleger esta cidade. Vitória da Conquista , como cidade próspera , mas que recebeu a negligência para com suas memórias”.
Voltando às coisas práticas da vida, morávamos mal ali na Francisco Santos. Precisávamos sair dali, urgentemente , havia focos de escorpiões , minha mulher estava grávida, dessa vez de uma menina . Todos avisavam , inclusive o meu pai, até que um dia a minha mulher foi picada por um deles, só assim , saímos daquele inferno , indo para uma outra casa, na Rua Ascendino Melo – 23 , pelo menos a casa tinha frente e, das janelas, podíamos ver o céu, o sol e o movimento da rua.
Minha batalha era grande, ainda por cima , tinha as tarefas de pai com direito a todas as preocupações e mais por ser um artista .
A nova casa tinha apenas oitenta metros quadrados, num formato de um polígono . Vivíamos ali : eu , minha mulher e, agora, quatro filhos , dentre eles Sarah, uma linda criança, no meio daquele turbilhão, ou melhor dizendo, dentro de uma lata de sardinha. Numa vida bastante miserável.
Lá moramos uns quinze anos. Hoje a casa nem existe mais, foi demolida .Ainda bem.
Em l986 sou convidado fazer parte da equipe de funcionários do Centro de Cultura.
Saímos definitivamente da Rua Francisco Santos para um novo endereço, já mencionado em textos anteriores, dos infortúnios e as vicissitudes por que ali passamos . Para se ter uma idéia, o apartamento ficava nos fundos e, para chegarmos até ele , tínhamos de seguir por um corredor . Além disso, éramos obrigados a conviver com o mau cheiro e os insetos peçonhentos e com outros considerados inofensivos que vinham da fossa localizada no fundo do quintal.
Vivíamos ali, três adultos, com três crianças pequenas , numa situação precária.
Com os cabelos compridos, minha presença parecia ser motivo de vergonha e constrangimento para a família. O meu a atelier, se é que posso chamá-lo assim , era um pequeno cômodo de poucos metros quadrados que não dava para movimentar-me, a não ser um espaço para pôr o banco , o cavalete. Quando pintava, ficava muito agitado, andando de um lado para o outro a observar uma melhor perspectiva , uma posição melhor para ver as cores , uma melhor colocação dos elementos, enfim, uma expressão que deixasse a obra de uma forma que me satisfizesse. Ali pintei apenas dois trabalhos, em quase uma década, pela falta de espaço. Preferi dedicar-me aos desenhos e depois houve alguns problemas de saúde com o meu filho, já do conhecimento dos leitores destes textos , Um olhar para trás ; mas, em compensação, viria produzir com intensidade na próxima moradia .
Vem-me à lembrança “ A tragédia de minha vida “ , de Oscar Wilde, que revela uma escrita “desnuda”, numa linguagem clara , e é assim que gosto de dizer, de forma clara e verdadeira os fatos da minha vida artística. Um percurso que não foi fácil . Eu tive que percorrer um longo caminho , tortuoso e agreste , tendo uma pedra em cada curva e adversidades, que me foram sucedendo a cada jornada. É bem verdade que contei em minha travessia com importantes amigos , minha mulher e dentre eles o maior deles, Jesus , que me amparou nas descidas , nos trâmites de minha vida ingrata.
Por volta de l996 , trabalhava ao lado do meu pai, e era muito comum colegas meus passarem por mim e sorrirem dos macacões encharcados dos estrumes, oriundos das cargas do gado para o abate na região. Também cheguei a trabalhar no posto de gasolina e, durante o abastecimento dos caminhões a óleo diesel , acaba me sujando e os sujos de graxas e óleo diesel , naquele tempo usava o codinome de bombeiro, hoje é frentista. Ficava exposto a este vexame, mas não ligava. Nas horas vagas desenhava e escrevia meu pensamentos, nunca fui preguiçoso, sempre dei porrada na vida.. Trabalhava duro ali ao lado de meu pai , diga-se de passagem, uma linda amizade, mas que ia se deteriorar-se com o tempo. E só voltaria ,após um longo tempo … Afastamo-nos durante muitos anos , tentei de todos os meios me reaproximar de meu pai , já quase na fase final das crises, mas sentia que me esquivava , mesmo assim insistia, queria o seu amor de volta , trocávamos algumas idéias, não era, porém, como antes ,repito foi difícil , repito sentia que ele me evitava , por motivos óbvios , preocupado que viesse precisar de dinheiro, eu era um artista muito pobre ; mas não era nada disso, quem ia ali era meu coração, Deus sabe disso, e já deve ter falado com ele. Os que pensam ao contrário não me importa, e, depois, sabia que o carma que ora passava era meu .e tinha que perdoar. E, no final das contas, dei a entender que , Graças a Deus, era o afeto, motivo que o procurava. Na véspera de sua morte , Dia dos Pais, lembro-me, como se fosse hoje, que , ao dar-lhe os parabéns, disse a ele: “ O senhor é um homem de valor “ e sorrindo respondeu-me: “ Obrigado”.
Estava selada a amizade, como nos velhos tempo de amigos verdadeiros.
Naquele momento, saiu da sala e trouxe alguns documentos dentre os quais um documento original da Prefeitura, ou seja, que dava licença à sepultamentos e me disse: “Fique com ele, Bertinho (chamava-me assim), pode precisar e depois é difícil de procurar, porque é tanta confusão na hora para encontrar este papel “ . Eu fiquei atônico. Peguei o documento e o guardei em casa, para cumprir o pedido. Passados uns dois dias , ele partiu , em paz e sem sofrimentos inerentes à partida, a não ser uma única dor, proveniente de um infarto fulminante.
Voltando a trajetória artística, por volta de l980, estava na fazenda Jaqueira , que tanto amamos e onde vivenciamos grandes momentos de nossas vidas, não estava bem , apesar de minha lucidez . Vim para Conquista, para lançar mais um livro, “ O sonho de um guerreiro”, que, na verdade, não fiz para este fim , quando o escrevi , o fiz mais como terapia. Precisava pôr meus pensamentos em ordem . E, daquela bendita árvore, uma enorme Jaqueira que ficava ao lado da casa da sede da fazenda , comecei a pôr no papel os meus pensamentos que resultaram no livro, “O sonho de um guerreio”. Deus foi muito generoso comigo .
Antes dos anos 60, meu pai fecha o posto de gasolina. Fiquei sem chão, sem nada para fazer, gostaria de estar ali todos os dias. Foi como seu eu tivesse perdido um ente querido, pois ocupava a minha mente, que era muito fértil ali. “E agora José” ?
Acredito que daí, a falta do trabalho foi o início de minha ruína , fiquei sem rumo, gostava de ter compromissos, pois nunca fui preguiçoso e tinha como o hábito o trabalho . Parece que perdi a direção. E as coisas deram no que deram. Com a mente vazia, sem minha exposição permanente, que dava muito movimento, foi a parte pior , pois era muito feliz ali. O que fiz? Os leitores devem estar perguntando. Fiz do meu quarto de dormir um atelier improvisado, coloquei dois cavaletes e sobre eles uma rampa , tamanho em retângulo e comecei a trabalhar, aliás, tentei, pois minha mãe, não suportando a bagunça, chamou meu pai.
“Emilio, você precisa conversar com Bertinho, veja o que ele fez do quarto e mande-o tirar estas porcarias de lá”. O meu pai via aquilo sem incômodo. Ele via aquilo, se acostumava e gostava de me ver pintando; já diferente da minha mãe, sabe como é dona de casa, é dona da casa. Fiz o que ela quis, porém pintei uma parede com um Cristo crucificado , que tomou a parede toda. Quando ela o viu quase cai de gosta , e logo chamou meu pai: “Emílio! Emílio! Veja o que Bertinho fez aqui ?! “ Mas, para surpresa minha, o meu pai gostou , o contrário de minha mãe que achou um absurdo: “ Este menino está doente!” , esbravejou. No entanto, minha mãe gostava muito de meus pensamentos e, de todos os meus poemas, ela tinha predileção pelo “O desespero do mendigo” , pois achava-o o mais bonito que um poeta pudesse escrever. Chegou a declamá-lo em vários lugares, a Academia Conquistense de Letras, pequenos seminários e centros espíritas. Sabia o poema todo de cor. Quanto aos outros, não tinha a mesma admiração, pois achava que nenhum deles era capaz de superar o “O desespero do mendigo”.
Então, começaram os embates. Logo após “O sonho de um guerreiro”, meu pai começou a se opor a minha carreira : “ Como este rapaz pode se sustentar, fazendo estas coisas ? Viver de Filosofia!”, dizia inconformado . Eu sempre fui diferente de meus irmãos que seguiram mais a orientação de meu pai, negociante, sou o único artista da família, daí o baque.
Quanto aos meus livros, milhares e milhares de exemplares eram vendidos em mãos, pois as livrarias não gostavam de poetas da terra, e muito menos emergentes. Tinha que me virar ,distribuía para as livrarias; outros colocava debaixo do braço e ia à luta, viajava pelas cidades circunvizinhas para vendê-los aos prefeitos vizinhos. Muitos compravam por amizade ou pela admiração “daquele esforço sem limite “.
Que exaustão. Não tinha mais o apoio de meu pai, precisava procurar patrocínios e outros amigos para me ajudar no meu sonho.
Fui o único artista da família , a levar uma vida como um sacerdote, sem as riquezas , sem o conforto material … E assim fui peregrinando pela vida afora .
Com as crianças crescendo, tive de mudar o meu comportamento diante da vida , mas não a convicção de meus pensamentos e a arte , ninguém vive sem ela. O dinheiro não é tudo.
Ali no posto, sempre estava recebendo visitas de pessoas de fora e, como disse anteriormente, me distraía bastante , chamava a atenção de todos que por ali passavam , a exemplo do prof. Walter Levy, introdutor do expressionismo no Brasil , quando aqui , de passagem por esta cidade estimulou-me para prosseguir a carreira, convidando-me a estudar na Escola de Artes Pan-americana, em São Paulo, o quanto me arrependo de não ter ido para lá.
Publiquei 13 livros, não obstante as pessoas não imaginam “o duro que dei “ para colocá-los nas livrarias , os projetos requeriam muito de mim e, daí, vinham as canseiras e os esgotamentos, pois tudo era comigo - um polivalente. Realmente, só vim ter prestígio na minha terra após o meu sucesso lá fora , ainda assim , meu trabalho foi muito rejeitado,, sofria criticas e restrições, todas elas movidas à “ nojenta “ da inveja , parece um carma na minha vida.
Dentre os amigos que me ajudaram nesta fase tomando a minha dor, cito as palavras de Nilton Gonçalves representando os demais: “ têm – se manifestado contra a inclusão do poeta e artista Alberto David ; um poeta e artista , que tem sido apoiado lá fora especialmente em Salvador , tem dado entrevistas em jornais , emissoras de rádio e TV e indiretamente tem procurado elevar o nome no tocante ao setor cultural (…). Quantos desses filhos de vocação, famosos e inteligentes , em vida contribuíram para eleger esta cidade. Vitória da Conquista , como cidade próspera , mas que recebeu a negligência para com suas memórias”.
Voltando às coisas práticas da vida, morávamos mal ali na Francisco Santos. Precisávamos sair dali, urgentemente , havia focos de escorpiões , minha mulher estava grávida, dessa vez de uma menina . Todos avisavam , inclusive o meu pai, até que um dia a minha mulher foi picada por um deles, só assim , saímos daquele inferno , indo para uma outra casa, na Rua Ascendino Melo – 23 , pelo menos a casa tinha frente e, das janelas, podíamos ver o céu, o sol e o movimento da rua.
Minha batalha era grande, ainda por cima , tinha as tarefas de pai com direito a todas as preocupações e mais por ser um artista .
A nova casa tinha apenas oitenta metros quadrados, num formato de um polígono . Vivíamos ali : eu , minha mulher e, agora, quatro filhos , dentre eles Sarah, uma linda criança, no meio daquele turbilhão, ou melhor dizendo, dentro de uma lata de sardinha. Numa vida bastante miserável.
Lá moramos uns quinze anos. Hoje a casa nem existe mais, foi demolida .Ainda bem.
Em l986 sou convidado fazer parte da equipe de funcionários do Centro de Cultura.
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