sexta-feira, 21 de junho de 2013

PT se irrita com ação de Haddad ao lado de tucanos. PSDB também criticou Alckmin por anúncio de redução de tarifa

por SILVIA AMORIM

2013-622715891-2013061941887.jpg_20130619Em coletiva na quarta-feira, Fernando Haddad (PT) anuncia redução na tarifa de ônibus junto com o governador Geraldo Alckmin (PSDB) Terceiro / Agência O Globo

SÃO PAULO — Quando o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), telefonou, na tarde de quarta-feira, para São Paulo e informou que anunciaria, ainda naquele dia, a revogação do reajuste da tarifa do transporte público no Rio, o prefeito paulistano Fernando Haddad (PT) viu ruir a sua última esperança de manter a passagem de ônibus em R$ 3,20 na capital paulista. Isolado e pressionado por líderes do PT, preocupadas com eventuais abalos à imagem da presidente Dilma Rousseff, diante da dimensão que tomou a causa dos estudantes no país, Haddad combinou com o governador Geraldo Alckmin (PSDB) uma “rendição” conjunta.

O objetivo era evitar que o desgaste, inevitável, não se tornasse ainda maior.

Entretanto, a forma que o prefeito escolheu para resolver a questão — um anúncio ao lado do PSDB — desagradou ao próprio partido. O PT havia organizado ao longo do dia anúncios de redução da tarifa do transporte coletivo por prefeitos petistas em todo o país. Alvo preferencial dos manifestantes na reta final do movimento na capital paulista, Haddad remou contra a maré.

Candidato à reeleição, o governador Geraldo Alckmin também teve a sua atitude criticada por tucanos, que viram nela a criação de um precedente perigoso e estimulante para futuras manifestações. O maior desgaste para o governador, segundo avaliação de líderes tucanos, foi a ação truculenta da polícia na repressão. Mas não foi o único.

Anunciar que usará recursos previstos para obras que estão paradas para pagar a conta pela redução da tarifa também foi visto como um discurso prejudicial politicamente. Para alguns tucanos, isso passou uma mensagem de falta de planejamento no governo.

O próprio discurso adotado por Alckmin no início dos protestos contra os manifestantes soou mal dentro do partido.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso reprovou publicamente, embora de forma sutil, a posição do governador, dizendo que governantes e líderes deveriam procurar entender as razões dos atos e não “desqualificá-los como ação de baderneiros”.

Alckmin havia usado dias antes a expressão “baderna” para se referir a um dos protestos que terminou em confronto entre policiais e manifestantes. Haddad também viu o ministro da Fazenda, Guido Mantega, rechaçar publicamente a proposta levada por ele à presidente Dilma Rousseff de ampliar as desonerações para o setor de transporte.

— O governo já fez desonerações este ano. Não estão previstas novas desonerações além das que fizemos — disse Mantega.

Foi a pá de cal no plano do prefeito. Haddad contava com a ajuda do governo federal para revogar o reajuste da tarifa e procurava um discurso honroso, já que havia dito horas antes que seria “populista” qualquer decisão tomada a toque de caixa. O ex-presidente Lula e Dilma haviam orientado Haddad a recuar. O presidente nacional do PT, Rui Falcão, fez apelo no mesmo sentido quarta-feira.

FONTE: O GLOBO

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