Os adversários de Dilma Rousseff decidiram se ajudar para garantir o maior número de candidatos a presidente. Tudo por um segundo turno em 2014
por LEOPOLDO MATEUS e ALBERTO BOMBIG
(Fotos: Sérgio Lima/Folhapress, Pedro Ladeira/Frame/Folhapress e Adriana Spaca/Brazil Photo Press/Folhapress)
Quanto mais oposição, melhor. Enquanto a inflação ameaça escapar do controle, e o país ainda patina rumo ao crescimento econômico prometido pelo governo, os três pré-candidatos a tirarDilma Rousseff do Planalto em 2014 passaram a se ajudar mutuamente. Parafraseando o célebre poema “Quadrilha”, de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), o pré-candidatoAécio Neves (PSDB) ajuda Eduardo Campos (PSB), que ajuda Marina Silva (sem partido, à espera da aprovação de sua Rede), que ajuda Aécio. Todos se ajudam como podem. Os três oposicionistas sabem que a taxa de aprovação pessoal da presidente, hoje em 77%, segundo o Datafolha, os obriga a trabalhar em bloco para forçar um segundo turno no ano que vem. Pelo menos por enquanto, é um por todos, e todos contra Dilma.
O PSDB ajuda Marina, informalmente, a conseguir as 500 mil assinaturas necessárias para a criação da Rede, o partido que ela tenta construir para lançar sua candidatura à Presidência. Tanto Aécio como Campos reagiram com indignação a informações de que o governo federal tentava sufocar a criação da nova legenda. Em entrevistas recentes, os dois também exaltaram a antiga amizade entre eles, além de um estimular a candidatura do outro.
Dentro do PSDB, de maneira reservada, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, encorajam os tucanos a estimular a pré-candidatura Campos. Alckmin até sonha em ter o PSB como aliado de sua candidatura à reeleição. Como um primeiro gesto, cedeu um palanque a Campos no início do mês, durante um encontro de prefeitos paulistas em Santos. Um importante líder do PSDB diz que há lógica nessa aproximação. “Campos enfraquece Dilma no Nordeste, e Marina é opção ao voto ético e ambiental. Para nós, é muito melhor que eles sejam candidatos.”
Um raciocínio semelhante é adotado por aliados de Campos e Marina. O PSB acredita que Aécio tira votos de Dilma em Minas Gerais – segundo maior colégio eleitoral do país, onde o PT venceu com folga nas últimas eleições – e em São Paulo, onde o PSDB é tradicionalmente forte. De Marina, o PSB espera que repita o feito das últimas eleições: atrair eleitores antes comprometidos com o PT que, por algum motivo, se desiludiram com o partido do governo. Os correligionários de Marina acreditam que, com as candidaturas de Aécio e Campos, ela pode ir para o segundo turno com pouco mais que os 19% que obteve em 2010. O discurso oposicionista funciona como argamassa nesse bloco informal. Sem adotar a linha do “quanto pior, melhor”, os pré-candidatos deverão apontar regularmente o que consideram problemas estruturais do governo petista.
DISPUTA – A oposição também sabe que não se faz política apenas com afagos. Ao mesmo tempo que torcem pelo maior número possível de candidaturas à Presidência, Aécio, Campos e Marina disputam o apoio de legendas médias. Sem nomes fortes o suficiente para disputar o Planalto, elas são essenciais para qualquer chapa. Ajudam a compor palanques estaduais e oferecem preciosos minutos de TV. Os demais partidos têm, entretanto, muito apetite. De antemão, exigem que os partidos dos candidatos à Presidência abdiquem de candidaturas estaduais em troca da parceria nacional.
A tão discutida fusão entre PPS e PMN é vista por correligionários de Campos como uma excelente oportunidade para lançar a candidatura do governador pernambucano. Segundo a cúpula do PSB, vários parlamentares, de diversos partidos, estão insatisfeitos em suas legendas e em busca de alguma brecha jurídica para deixá-los. “Se isso acontecer, esse novo partido terá um dos cinco maiores tempos de TV. Os deputados do PSD, por não ter sido eleitos pelo partido e não poder perder seus mandatos, têm “probabilidade” caso troquem de legenda”, diz um líder socialista.
Outras legendas médias cobiçadas são PDT, PTB, PR e DEM. Apesar de compor a base do governo, o PDT conversa com todos – sem fechar com ninguém. PTB e PR fazem o mesmo: integram a base governista, mas mantêm portas abertas para Campos e Aécio. A surpresa pode ser o DEM. Tradicional aliado do PSDB, ele flerta com Eduardo Campos. Tanto o senador José Agripino (RN) como o prefeito de Salvador, ACM Neto, deram declarações simpáticas a Campos. A ordem geral é desidratar a força eleitoral de Dilma Rousseff, que segue favorita à reeleição. Se ainda não pode sonhar com a vitória, a oposição quer ao menos garantir uma boa briga.
FONTE: ÉPOCA
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