Fernanda Calgaro*
Do UOL, em Brasília
Do UOL, em Brasília
Em sua última aparição pública, José Dirceu chega para votar em São Paulo, no
domingo (7)
Com o voto de Marco Aurélio, a maioria dos ministros do STF (Supremo Tribunal
Federal) condenou o ex-ministro José Dirceu por corrupção ativa no processo do
mensalão. Condenaram Dirceu o relator Joaquim Barbosa, Luiz Fux, Rosa Weber,
Cármen Lúcia, Gilmar Mendes e Marco Aurélio. O ex-ministro foi absolvido pelo revisor
Ricardo Lewandowski e por Dias Toffoli, que votou hoje.
"José Dirceu teve uma participação acentuada nesse escabroso episódio", disse
Marco Aurélio. O ex-ministro condenado hoje começou
sua carreira como líder estudantil e foi deputado estadual e federal antes de
chegar ao governo Lula.
Pelo menos cinco ministros já afirmaram que Dirceu comandou o mensalão
--Aurélio, Mendes, Lúcia, Fux e Barbosa-- e dava respaldo ao ex-presidente da
sigla José Genoino e ao ex-tesoureiro Delúbio
Soares --ambos
também condenados pela maioria da Corte-- para que realizassem as
negociações de compra de apoio político dos parlamentares da base aliada no
primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
"O ex-ministro José Dirceu, que homologava os acordos daquele partido,
acordos que vimos (...) extravasaram e muito o campo simplesmente político. Não
podemos ante a disputa acirrada partidária imaginar partidos altruístas, que se
socorram mutuamente", afirmou Marco Aurélio. "As reuniões, pasmem, ocorriam no
Palácio do Planalto", acrescentou o magistrado.
Gilmar Mendes citou depoimentos de diversas testemunhas que afirmam que
Dirceu não participava das reuniões para negociar o acordo entre o PT e o PTB,
mas era contatado por Genoino ou Delúbio logo depois que era fechado algum
acerto. “Depois das conversas, sempre havia uma ligação ou do Delúbio ou do
Genoino para José Dirceu.”
Já Lúcia considerou que, apesar de não haver documentos assinados por Dirceu,
ele era informado das negociações por Delúbio. "Não há nenhum documento assinado
por ele que levasse à comprovação dos atos de corrupção ativa que lhe são
imputados, mas, a partir da declaração de Delúbio Soares, ele afirma que tinha
respaldo para as operações (...) além de haver reuniões na Casa Civil",
afirmou.
Em seu voto na última quinta-feira (4), o ministro Luiz Fux afirmou que
Dirceu tinha o pleno conhecimento dos encontros com os réus apontados como
integrantes do esquema. "Pelas reuniões, pelos depoimentos, fica evidente que
esse denunciado [Dirceu] figura como articulador político desse caso penal, por
sua posição de destaque no partido e governo", disse.
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O relator, por sua vez, disse Dirceu que ele tinha papel central no esquema
do mensalão. "O conjunto das provas coloca o então ministro em posição central
(...) como mandante das promessas de pagamentos indevidos aos parlamentares",
afirmou Barbosa durante voto na última quarta-feira (3).
Rosa Weber afirmou, em seu voto na quinta-feira, que não há dúvidas da
existência de "uma elaboração sofisticada para a corrupção de parlamentares" com
dinheiro de recursos públicos. "Mesmo que fosse dinheiro limpo, não deixaria de
ser propina." A magistrada concluiu que Delúbio não poderia ter agido por contra
própria.
"Seria implausível que Delúbio comprometesse o PT em uma dívida de R$ 50
milhões sozinho. Ele seria uma mente privilegiada", ironizou. Segundo a
magistrada, são responsáveis não só quem executou os pagamentos, mas quem
mandou: "ou seja, todos."
No voto apresentado hoje, Aurélio citou depoimentos que indicam que Dirceu
usou da estrutura do grupo envolvido no mensalão para questões pessoais. "As
declarações prestadas demonstram que José Dirceu valeu-se da estrutura do grupo
para resolver problemas particulares da ex-cônjuge."
Ainda faltam votar sobre este item do julgamento o decano da Corte, ministro
Celso de Mello, e o presidente Ayres Britto, que devem votar nesta quarta.
FONTE: UOL
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