segunda-feira, 29 de julho de 2013

Dominguinhos está em todos os acordeões do Brasil

Morto no dia 23 de julho, aos 72 anos, o músico e arranjador Dominguinhos sofisticou o forró e levou sua sanfona para além das fronteiras do forró e do xote

MICHEL TELÓ, EM DEPOIMENTO A FLÁVIA YURI OSHIMA

José Domingos de Morais
1941 – 2013 ▪  

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Dominguinhos em foto de 2011. Sua música assimilou o jazz americano e a bossa nova (Foto: Eduardo Enomoto / Futurapress

"Como sanfoneiro, é impossível não ser fã do trabalho de Dominguinhos. Comecei a tocar sanfona aos 10 anos. Sou do sul do país, do Paraná. A gente foi morar em Mato Grosso do Sul quando eu tinha 3 anos. O vanerão(música típica da tradição popular do sul, de passo acelerado) nunca saiu lá de casa. Passei a gostar do som de Dominguinhos aos 15 anos. Já conhecia forró, Luiz Gonzaga, Orlando Silveira. Dominguinhos me chamou a atenção. Eu não sabia direito definir o que era, mas tinha alguma coisa diferente para o lado bom, sabe?


Quando eu quis explorar mais o estilo nordestino, misturar forró e vanerão, a grandeza de Dominguinhos foi ganhando nome para mim. É claro que o Luiz Gonzaga é maravilhoso. Todo mundo sabe que Dominguinhos foi discípulo e apadrinhado dele. Tocou com ele por muitos anos. Mas o som de Dominguinhos era mais sofisticado que o do mestre. Ele sabia tocar o forró simples e perfeito de Gonzaga. Só que também tocava versões mais elaboradas. A sanfona dele conversava com o jazz, com a bossa nova.

Acompanhando sua carreira, vi que fez muitos shows com jazzistas americanos importantes lá fora. Ele levou nossa sanfona, impregnada de Brasil, para os clubes de jazz. Antes disso, já tinha posto seu nome na bossa nova com gente como Gilberto Gil, Maria Bethânia e Toquinho. Era um músico formidável.

Realizei meu sonho de conhecer Dominguinhos nos bastidores de um programa de TV. Eu estava começando. Tinha 25 anos, tocava com a banda Tradição. Quando soube que ele estava lá, fui falar com a produção para encontrá-lo. Fiquei nervoso demais. Coisa de fã mesmo. Não sei se ele me achou meio bobo porque eu estava todo sem jeito. Se achou, não demonstrou. Me tratou com muito carinho. Consegui dizer quanto era fã, contei que tocava gaita de botão, falei das músicas dele que sabia de cor. Ele riu, gostou de saber que a nova geração se lembrava dele. O cara não era só um dos maiores músicos do país. Era também um senhor ser humano.

Um de meus sonhos como artista era tocar com Dominguinhos. Uma agenda louca aqui, duas turnês seguidas ali e nunca deu certo. Em 1999, gravei ‘Só quero um xodó’. Depois, ‘De volta para o meu aconchego’, uma de minhas músicas favoritas. Terça-feira, dia 23, quando soube de sua morte, deu um aperto. Foi assim para todo mundo que gosta de música e, principalmente, de música da nossa terra. Toquei ‘De volta para o meu aconchego’ para ele. O Brasil todo sentirá saudades de Dominguinhos. A gente ganhou muito com ele. Não tem sanfona neste país que não tenha um tanto de Dominguinhos nela. O cara era bão.”

FONTE: ÉPOCA

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