sexta-feira, 29 de abril de 2011

ACM Neto: “Fusão não é assunto para agora”

Para líder do DEM, prioridade é reestruturar partido após baque do PSD


Carolina Freitas
O deputado federal ACM Neto, líder do DEM na CâmaraNa surdina: "Estamos numa fase de ouvir muito e falar pouco" (Rodolfo Stuckert/Agência Câmara)

Apontado como articulador da fusão entre PSDB e DEM, o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto esconde o jogo. “Eu mal lidero minha bancada imagine comandar uma fusão”, esgueira-se. Líder da bancada do DEM na Câmara dos Deputados, ACM Neto não descarta a hipótese, mas diz que fusão não é assunto para agora.

Em entrevista ao site de VEJA, o deputado fala ainda sobre os rumos do DEM depois da debandada provocada pela criação do Partido Social Democrático (PSD). A legenda nasceu de uma cisão do DEM, sob liderança do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e do vice-governador paulista, Guilherme Afif Domingos. A senadora Kátia Abreu somou-se aos dissidentes.

Leia os principais trechos da entrevista:

Como o DEM vai se fortalecer depois do baque da criação do PSD?  Estamos começando pela Paraíba um programa de reestruturação. Vamos criar uma agenda nacional para motivar nossa militância. Está em preparo um pacote de providências em diversas áreas, a ser apresentado no momento certo.


Quais serão as linhas gerais desse pacote? Vamos manter isso a sete chaves. Não posso adiantar nada. Estamos numa fase de ouvir muito e falar pouco.

Por quê? Porque o momento mais difícil, a turbulência, já passou e agora precisamos de tempo para tomar as providências de reorganização.

E qual foi o pior momento? A tentativa de golpe no partido que ficou clara quando Gilberto Kassab começou esse movimento de PSD, no início do ano. Uma das tarefas mais difíceis foi impedir que Kassab nos levasse em São Paulo prefeitos e deputados estaduais.

Qual foi o impacto no DEM da criação do PSD? Fazendo um balanço, vemos que eles não conseguiram levar sequer um terço do partido, ou seja, a base está preservada. O Democratas manteve seus mais importantes quadros. Perdemos quadros colaterais, coadjuvantes. De gente com relevo nacional eles levaram só dois ou três.

O governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo, ainda pensa em deixar o DEM. O que os senhores estão fazendo para contê-lo? O governador vai ficar. Estamos mostrando a ele o processo que está em curso, de fortalecimento do partido, em que ele terá um papel central. Colombo será não só uma liderança local, mas um dos líderes da oposição no Brasil. Ele tem um papel nacional e precisa estar conosco.

O espaço do DEM no governo de Geraldo Alckmin (PSDB) em São Paulo é suficiente? Ficamos muito satisfeitos com a mudança no secretariado. O governador mostrou ter consciência da importância do DEM para São Paulo. É uma parceria de sucesso. O Desenvolvimento Social é uma secretaria de peso, que concentra ações importantes. E Rodrigo Garcia é o nome certo para a área.

A demissão de Afif do secretariado de Alckmin também agradou? Olha, o pacto feito nas eleições foi entre os partidos, não entre pessoas. Alckmin decidiu tirar Afif para acomodar um quadro do PSDB que estava no Desenvolvimento Social. Foi um arranjo feito pelo governador em sua equipe. Só o que fizemos foi reivindicar o espaço do DEM no governo.

O PSDB tem sido um parceiro em boa parte do país. Qual a chance da aliança caminhar para fusão? Isso não está em pauta. É muita especulação.

Mas o senhor é apontado como líder dessa negociação. Meu nome está muito doce na boca das pessoas. Engraçado que quem me aponta sequer conversa comigo.  Ninguém que diz isso me procurou para saber qual é a minha opinião.

E qual é a opinião do senhor? Minha opinião é que a agenda agora é outra, não é fusão. Fusão não é assunto para agora. Algo dessa seriedade não deve ser tratado no plano das hipóteses. Por enquanto, é especulação. É hora de trabalhar o DEM.

O presidente do DEM, Agripino Maia, disse que há conversas informais em curso. Aí está nas palavras dele. Eu, num assunto como esse, não trabalho com especulação nem hipótese.

Então o senhor está fora da negociação? Eu mal lidero minha bancada. Imagine comandar uma fusão.

O senhor teria influência para isso. Até criou a alcunha de Partido Sem Decência para o PSD. Por quê? Porque é um partido sem base ideológica, com o único objetivo de burlar a lei eleitoral, em uma janela de infidelidade partidária. Não é nem governo nem oposição. Em comum os integrantes do PSD só têm a vontade desmedida de ser governo. Isso me assusta.

As pessoas estão incomodadas em ser oposição? É difícil ser oposição. No Brasil, infelizmente, poucas pessoas têm de fato compromisso com a vontade do eleitor.

O DEM vai à Justiça exigir os mandatos de quem migrar para o PSD? O que houve até agora foram manifestações de pessoas que vão aderir ao PSD, mas ninguém saiu do DEM. Você só pode pedir o mandato de alguém depois do fato jurídico consumado. Se houver esse tipo de desfiliação de parlamentares com mandato estaremos autorizados a pedir o mandato.

O senhor acredita que vale o desgaste? Se tiver respaldo jurídico, nós vamos pedir. Não é para criar factóide.

FONTE: Veja

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