Anunciada há dois anos pelo GDF, a internet rápida e gratuita em Brasília anda a passos de tartaruga
Filipe Knupp: sem conexão em lugares públicos da cidade
Na segunda-feira passada, a pedido de VEJA BRASÍLIA, o secretário da Copa, Cláudio Monteiro, tentou, do seu gabinete, conectar-se à internet gratuita anunciada há dois anos pelo governo do Distrito Federal (GDF). Depois de três tentativas, ele desistiu. Sem saber por que a rede wi-fi não estava disponível, Monteiro ligou para o secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação, Glauco Rojas, em busca de uma justificativa. “Foi-se o tempo em que acessar a internet fora de casa era um capricho. Hoje, trata-se de algo fundamental”, disse.
Não é só o secretário que tenta em vão conectar smartphones e tablets em áreas públicas, como a Rodoviária do Plano Piloto, a Esplanada dos Ministérios e o Parque da Cidade.
O professor Filipe Knupp usa um tablet para verificar e-mails de alunos e um iPhone para conversar com familiares que moram no Rio de Janeiro. Quando o governador Agnelo Queiroz (PT) garantiu que importantes espaços públicos da cidade teriam internet wi-fi gratuita a partir de setembro de 2011, Knupp vibrou. Foi festa antes da hora. Hoje, ele não consegue conexão em lugares citados na promessa política. “Já tentei no Parque da Cidade e no Estádio Nacional. Nunca tive sucesso”, afirma.
Na terça-feira, depois de passar uma semana em Brasília, o engenheiro civil canadense Robert Clemark finalmente comeu um pastel de carne moída na Viçosa da rodoviária. Ao deparar com um sabor único (“As frituras brasileiras são imbatíveis”, afirmou), Clemark fez diversas fotos do local e tentou, na mesma hora, publicá-las nas redes sociais. Tentou, mas não conseguiu, já que seu tablet não obteve acesso à rede do GDF. “Aqui no Brasil até a conexão 3G é precária nos locais de grande concentração de gente”, lamentou. “Mas a comida é deliciosa.”
Quando bradou que Brasília seria a primeira capital das Américas com cobertura total em banda larga, o governador Queiroz anunciou investimentos na ordem de 80 milhões de reais, dinheiro que, segundo o secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação da época, Gastão Ramos, nunca chegou. De acordo com ele, que hoje comanda o Serviço de Limpeza Urbana (SLU), o wi-fi que o GDF anunciou lá atrás não ultrapassou a fase de testes. Por isso, estaria funcionando de modo instável. “Quem deve explicar melhor é o atual secretário”, sugere.
Glauco Rojas, titular dessa pasta e hoje à frente do programa de internet grátis do GDF, divulgou que até este fim de semana será lançado um edital para estender o projeto -- antes restrito a três pontos da cidade -- ao Eixo Monumental, da Praça dos Três Poderes até o Memorial JK, e a todo o Eixo Sul. Apesar disso, ainda não existe data definida para essa nova área de conexão sair do papel. O que também falta são números atuais sobre o funcionamento do programa. Até agora, por ausência de monitoramento, a secretaria não sabe dizer com exatidão quantos acessam a rede experimental. “Estima-se que 1 500 pessoas usem a rede diariamente”, especula Rojas, que desconhece a real velocidade de conexão desse acesso.
Quanto às tentativas frustradas do secretário Cláudio Monteiro de conectar-se à internet a partir do gabinete dele -- localizado ao lado do Estádio Nacional Mané Garrincha --, Rojas diz que as antenas da área foram desativadas por causa das obras que ainda não terminaram por lá. O secretário garante também que existem pontos com internet de 52 megabytes funcionando na plataforma inferior da rodoviária e no Quiosque do Atleta, no Parque da Cidade.
VEJA BRASÍLIA foi a esses lugares na segunda-feira para tentar conectar um tablet, mas as redes não estavam disponíveis. Nesse dia, o vendedor de coco Augusto Baiocchi disse que até junho do ano passado conseguia plugar um smartphone à rede do GDF com muita precariedade no parque, mas, desde então, o sinal nunca mais se mostrou disponível. “Quem quiser transmitir dados daqui tem de contar com a boa vontade do 3G”, alertou.
Segundo Cláudio Monteiro, no jogo de estreia do Campeonato Brasileiro, disputado entre Flamengo e Santos no Estádio Nacional, em 26 de maio, cerca de 70 000 pessoas transmitiram informações por dispositivos móveis enquanto a bola rolava no gramado. Nas arquibancadas, a realidade não foi bem essa. Muitos reclamaram da dificuldade de obter sinal. O próprio secretário diz que o feito só foi possível porque as maiores operadoras de telefonia fizeram um pool e montaram torres de sinais extras em troca de ter sua marca associada à Copa das Confederações. Já o show Renato Russo Sinfônico, realizado no mesmo estádio um mês depois do jogo, foi marcado pela falta de sinal até para as ligações feitas a partir dos telefones celulares do público presente na arena.
Ao enumerar as vantagens de se ter wi-fi gratuito nas ruas de Brasília, Monteiro aponta o turista como o maior beneficiado. “Hoje, ao visitar um monumento, ele bate uma foto e posta imediatamente nas redes sociais. Com wi-fi à disposição, até as informações do lugar podem ser pesquisadas na hora.” É justamente esse o sonho que turistas e moradores da capital esperam ver realizado algum dia.
FONTE: VEJA
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