por Cleidiana Ramos
O retrato de Maria Epifânia: pelos no rosto são marca de senhora da elite baiana
Dentre as várias obras que compõem o acervo do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB), o retrato de Maria Epifânia de São José e Aragão fascina o observador. Trata-se do retrato de uma senhora vestida com roupas finas e joias caras que tem como o traço facial mais marcante um vistoso bigode. Além de espanto, o quadro evoca um mistério, pois até agora sabe-se pouco sobre a curiosa personagem.
No volume I da coletânea História da Vida Privada no Brasil, organizada por Fernando A. Novais e Laura de Mello e Souza, dona Maria Epifania é descrita da seguinte forma: "Uma rica senhora baiana do século XVIII, que parecia querer compensar os minguados dotes físicos com a opulência das jóias" .
Os autores, na verdade, acharam uma forma educada de chamar a dama rica de "feia". Já o bigode não foi mencionado. "Achei algumas informações sobre ela em um texto de Pedro Calmon", diz o jornalista e publicitário Nelson Cadena, que faz pesquisas sobre História da Bahia.
O interesse sobre dona Maria Epifânia nasceu no dia em que ele viu o quadro pela primeira vez. "Fui fazer uma palestra no IGHB e ao ver aquele quadro fiquei hipnotizado", conta Cadena.
Em suas pesquisas, Cadena conseguiu reunir dados interessantes: Maria Epifânia foi casada com o capitão-mor Antônio Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque, um de seus primos. Não se sabe quem pintou o retrato, mas a técnica é óleo sobre tela.
Segundo a pesquisa de Cadena, ela era da família de Garcia D´Ávila e filha de José Pires, dono de três engenhos: Cazumbá, Passagem e Nossa Senhora da Conceição.
De acordo com o pesquisador, ela chegou a morar no Solar do Unhão. Para ele, outro detalhe impressionante do quadro são as joias. "Só a tiara tem uns 15 diamantes", completa.
Questões
A contemplação do retrato de Maria Epifânia deixa uma série de perguntas. Numa época em que os retratos eram pintados e passíveis de ser retocados, Maria Epifânia não escondeu o bigode?
"A depilação é algo relativamente novo. O buço era muito comum nas mulheres europeias. Vai ver que o bigode era o seu trunfo de beleza", diz o doutor em antropologia Roberto Albergaria.
Será que alguém que não gostava dela acrescentou o bigode posteriormente?
"Eu acho que aquele bigode foi colocado depois da pintura, mas realmente não dá para ter certeza", diz a professora Consuelo Pondé de Sena, presidente da IGHB.
Já para Nelson Cadena, manter o bigode pode ser uma marca da personalidade forte que, possivelmente, Epifânia possuía.
"Ela viveu na Casa da Torre em uma época em que sua família vivia das conquistas de terra e abrigava centenas de pessoas. Tinham que ser mulheres muito fortes", diz.
Além do retrato de dona Maria Epifânia, há muito para ser visto no acervo do IGHB: pertences de Castro Alves, inclusive uma mecha do seu cabelo; a mesa que Euclides da Cunha usou para escrever "Os Sertões" e retratos de personalidades como o imperador Pedro II e a imperatriz Dona Tereza Cristina.
No acervo do IGHB é possível conhecer o rosto de dona Amélia de Leuchtemberg, a mulher que fez Dom Pedro I esquecer a Marquesa de Santos, seu grande amor.
FONTE: A TARDE
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