domingo, 29 de julho de 2012

Lula teme que decisão final sobre mensalão manche sua imagem

BERNARDO MELLO FRANCO
DE SÃO PAULO

Lula Mensalão

Um presidente que encerrou o mandato com mais de 80% de popularidade e passou a faixa à sucessora que escolheu pode ter motivos para se preocupar com a sua imagem nos livros de história? Para Luiz Inácio Lula da Silva, 66, a resposta é sim.

Desde o fim do segundo mandato, o primeiro operário a subir a rampa do Planalto tem deixado clara a sua preocupação com a forma como será contado, no futuro, o escândalo do mensalão.

Lula é mencionado apenas duas vezes, em notas de rodapé, na denúncia do Ministério Público Federal que descreve o esquema que teria sido organizado pelo PT para comprar apoio político para o seu governo no Congresso.

Não há provas de que ele tenha participado ou autorizado o suborno de parlamentares, e o próprio delator do mensalão, o ex-deputado Roberto Jefferson, sustenta que Lula não sabia de nada.

No entanto, o petista tem transmitido a aliados a convicção de que sua imagem ficará manchada se o Supremo Tribunal Federal condenar por corrupção aliados como o ex-ministro José Dirceu.

A preocupação fica mais evidente a cada mudança de tom sobre o assunto. Em 2005, quando o escândalo veio à tona, o então presidente disse ter recebido uma "facada nas costas" de aliados.

"Com toda a franqueza, eu me sinto traído. Traído por práticas inaceitáveis das quais nunca tive conhecimento. Estou indignado", afirmou, em pronunciamento em cadeia de rádio e TV.

"Temos que pedir desculpas. O PT tem que pedir desculpas. O governo, onde errou, tem que pedir desculpas", acrescentou Lula.

Vieram as CPIs e o fantasma do impeachment voltou a assombrar Brasília, mas o presidente sobreviveu. Conseguiu se reeleger em 2006 e, animado com a aprovação recorde, trocou a cabeça baixa pela promessa de "desmontar a farsa" do mensalão.

"Foi uma tentativa de golpe no governo. Foi a maior armação já feita contra o governo", disse em entrevista à RedeTV! ao adotar o novo discurso, em novembro de 2009.

Há dois meses, em evento na Câmara Municipal de São Paulo, Lula descreveu o episódio como uma conspiração dos partidos de oposição e da imprensa para derrubá-lo.

O julgamento começa na próxima quinta, mas a disputa política já está na praça -- e o ex-presidente, como sempre, está no centro dela.

"Ele comprometeu sua biografia. Em vez da reforma política, liderou o mensalão", ataca o presidente do PSDB, Sérgio Guerra. "Lula pagou, paga e ainda vai pagar um preço elevado por isso tudo."

"Lula e seu governo não estão em julgamento", rebate o presidente do PT, Rui Falcão. "Ele elegeu sua sucessora e deixou o governo com aprovação popular incomparável. É isso que causa inveja."

FONTE: Folha de São Paulo

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