quinta-feira, 21 de junho de 2012

Coluna A Tarde: Maluf e Lula, um amor perfeito



 
Samuel Celestino
 
Se o PT dispusesse de um líder que estivesse acima de Lula certamente já teria afastado o ex-presidente por incapacitação no exercício de articulações políticas. Desde que Luiz Inácio retornou à ativa tem errado seguidamente. O último erro foi abraçar-se a Paulo Maluf, uma das figuras mais deletérias que surgiram no final da ditadura e permaneceu após ela. Não é o único, porque não me parece justo isolar Fernando Collor, embora o alagoano esteja alguns pontos acima de Maluf.

Salim foi o último candidato da ditadura à Presidência. Não foi nomeado pelo Alto Comando Militar da época porque, antes, a sociedade havia se pronunciado num amplo movimento cívico em praças públicas favorável às eleições diretas. O projeto do falecido Dante de Oliveira foi derrubado no Congresso, se não me engano por meros 22 votos. Mesmo assim, com as regras do regime de exceção, Tancredo Neves o derrotou no colégio eleitoral.

Antes de se atracar com Maluf, na casa do próprio, que estabeleceu o local de encontro e o esperou com fotógrafos a postos impondo uma humilhação ao ex-presidente. Lula andou, ainda, realizando reuniões equivocadas. Como aconteceu ao se encontrar com o ministro do STF, Gilmar Mendes, para uma estranha conversa sobre o julgamento dos mensaleiros. Caiu por terra e ficou mal na história, enquanto Gilmar abria a boca no mundo. Também resolveu alijar a principal eleitora do PT em São Paulo, Marta Suplicy, que ganhou o epíteto de “a velha”, para substituí-la por “um jovem poste”, Fernando Haddad, inventado pelo ex-presidente. Em outros tempos seria acertado dizer que Lula pirou de vez.

Tem mais. Intrometeu-se na escolha do candidato a prefeito de Recife, João da Costa, substituindo-o pelo senador Humberto Costa. Mais uma vez deu-se mal. O PSB do governador Eduardo Campos resolveu lançar candidato próprio, rompendo com o PT em Recife. Mais, ainda: Francisco Julião de Oliveira Sobrinho, juiz da 3a Vara Civil do Recife, mandou o Diretório Municipal do PT homologar a candidatura à reeleição do prefeito João da Costa. Derrota para Lula.

O amor repentino com Maluf valia pouco mais de um minuto na televisão e rádio, tempo do PP de Salim, que seria aproveitado por Haddad. Tudo deu errado nas negociações com um cidadão cujo nome virou o verbo “malufar”, com significado óbvio. O político anda às voltas com a Justiça, com a Interpol, com dinheiro em paraísos fiscais, segundo consta, impedido de entrar nos Estados Unidos para não ser preso e, ainda, ganhou um prêmio da Polícia Federal, em cujas instalações ficou preso por cerca de 30 dias.Ele e seu filho Flávio. Nada disso tem a mínima importância para Lula. O que lhe passa pela cabeça é ganhar eleição a que preço for, mesmo que seja acompanhado de uma figura carimbada que, se outro fosse o País, não teria mandato parlamentar. Pelo contrário, estaria preso.

Numa cena que assisti na Câmara dos Deputados, no início dos anos 80, Leonel Brizola, acompanhado de um grupo, encontrou Maluf que vinha em sentido oposto, com todos os dentes expostos, justo na direção do gaúcho. De repente, abriu os braços e saudou-o como “meu querido Brizola”. Recebeu na cara a resposta: “Mas que cara de pau, che!” Não se espera de Lula resposta dessa ordem. Um aperto de mão selando um acordo é o bastante.

No episódio com Lula, Maluf saiu risonho e ressuscitado. O encontro desastrado pode prejudicar em muito o seu “poste” paulistano. Para completar, diante do acontecido, perdeu a vice da chapa. Luiza Erundina, do PSB, que, depois de aceitar participar e ao saber da negociação, honrou a sua trajetória política e abandonou Haddad. O PSB em complemento, não apresentou substituto. Lula poderá entregar a vice a Maluf, que responde a processo na prefeitura paulistana por suposto desvio de recursos na época em que exerceu o cargo de prefeito.

Para dar imponência à recusa de Erundina, o próprio presidente do PSB, Eduardo Campos, que governa Pernambuco, foi quem deu a notícia à imprensa e anunciou que o seu partido não daria o vice, embora poderá participar da campanha. Quem se alia a Paulo Salim Maluf com direito a fotografias, não pode defender mensaleiro. Pelo contrário. Se alguma dúvida havia sobre marmeladas no governo do ex-presidente, Maluf passou a ser prova de que, com Lula, tudo pode acontecer.

* Coluna de Samuel Celestino publicada no jornal A Tarde desta quinta-feira (21).
 
FONTE: Bahia Notícias

 

Nenhum comentário: