segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O perito do SBT e uma nota manca do repórter

REINALDO AZEVEDO

O SBT contratou o seu próprio perito para avaliar as imagens das agressões de que o tucano José Serra foi vítima em Campo Grande, no Rio. Suas conclusões coincidem com as de Ricardo Molina, que periciou as imagens a pedido da Globo. A “bolinha de papel”, exibida pelo SBT, retrata um outro momento da agressão. Que eu saiba, seu parecer não foi ao ar. Entendo…
Marco Alvarenga, o repórter do SBT que fez a reportagem que caracteriza, na prática, Serra como um farsante divulgou uma nota. Ele está indignado com o uso do seu trabalho no programa do PT. Leiam o que ele escreve. Volto em seguida:

Colegas do SBT e de profissão,
Fiquei profundamente transtornado ao ver e ouvir no programa eleitoral da candidata Dilma Rousseff um trecho da reportagem que gravei sobre a agressão sofrida pelo candidato José Serra no Rio.
Em toda minha carreira profissional, NUNCA participei direta ou indiretamente de qualquer campanha eleitoral. JAMAIS servi a candidaturas e desejo continuar assim. Não aceito, por mais insignificante que seja, qualquer associação do meu trabalho a esta disputa subterrânea. Minha voz só a mim pertence.
Em nenhum momento na matéria afirmo que o objeto que aparece nas imagens foi o único a atingir José Serra durante a confusão, muito menos ter sido o causador da dor manifestada pelo candidato. Perguntei a 2 assessores do PSDB se haviam visto o que atingira Serra. Eles responderam negativamente. Tentei, por meio de assessoria, ouvir o candidato. Ele preferiu falar apenas à TV Globo.
Fui informado de que a direção de jornalismo do SBT não autorizou a veiculação e, prontamente, acionou o departamento jurídico para adotar as providências necessárias. Isto me alivia. Fosse outra a postura, não me sentiria mais em condições de continuar nesta casa.

Comento

Muito bem, seu Alvarenga! Tudo certo e nada no lugar! Vamos ver:

1 -
Você criou uma cadeia de eventos, sim, senhor! Sua narrativa criou uma falsa seqüência de nexos: bolinha de papel, telefonema ao celular, mão da cabeça.  Fraudou a realidade.
2 - De fato, você não disse que a bolinha de papel era o único objeto a ater atingido Serra, mas também jamais admitiu que sua equipe não havia filmado tudo, não é mesmo? E permitiu alegremente que a mentira prosperasse. Não fosse o celular de um repórter da Folha, Serra teria passado por farsante.
3 - Também não informou, e você sabia disso, que, entre a bolinha e o momento em que Serra deixou o local do evento, haviam se passado de 15 a 20 minutos.
4 - O mais grave mesmo, reitero, na sua reportagem, foi a criação de uma falsa cadeia de eventos.  Sem aquele celular do repórter da Folha, a sua versão teria triunfado — e, pois, a mentira teria tomado o lugar da verdade.
5 - O PT ter usado a sua reportagem em seu horário eleitoral, convenha, chega a ser menos grave. Só usou porque, com efeito, nem o próprio partido teria feito “aquilo” com tanta “eficiência”.
6 - E falta uma coisa essencial em sua nota, rapaz: o reconhecimento de que, no mínimo, cometeu um erro. Isso também faz parte da dignidade profissional.

FONTE: Veja

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