sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Bases aliadas de Geddel retiram apoio à Dilma e migram para Marina, diz César Borges

O Globo

Na Bahia, vice de Dilma, Michel Temer, disse que mantém apoio à Geddel

Na reta final da campanha, a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, está recebendo de aliados na Bahia o troco por abandonar o barco de Geddel Vieira Lima (PMDB), que concorre ao governo. Candidato ao Senado na chapa do peemedebista, o senador César Borges (PR) diz que está difícil segurar na campanha da petista prefeitos e militantes da coligação, que prometem agora pedir votos para Marina Silva (PV). É uma reação à postura da ex-ministra, que foi à Bahia e declarou apoio exclusivo à reeleição do governador Jaques Wagner (PT). Na prática, os dois são tratados como “detratores”, embora se mantenha oficialmente a adesão à aliança nacional.


- Você não tem controle sobre base. Se a base se ressente, se a base se sentir traída e se resolve tomar outra posição, aí fica difícil de controlar. Que o sentimento de mágoa existiu e existe, isso aí é sem sombra de dúvidas – afirma Borges, questionado sobre a migração para a candidatura verde.

A relação entre Dilma e a chapa de Geddel azedou no último dia 21, quando ela, em visita a Salvador, disse que seu apoio claro era a Wagner. Depois disso, a cúpula do PMDB baiano mandou tirá-la da propaganda de Geddel e só não rompeu oficialmente com ela porque entende que ficaria difícil explicar isso ao eleitor às vésperas do pleito. Além de somar dificuldades para o peemedebista, em terceiro nas pesquisas, a interpretação é que a postura de Lula e sua presidenciável ajudou a embolar a disputa para o Senado.

Enquanto os dois pediam votos explicitamente para Lídice da Mata (PSB) e Walter Pinheiro (PT), da chapa de Wagner, Borges viu sua diferença sobre os adversários cair ao longo da campanha. Em pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira, aparece com 34%, empatado com a socialista (34%) e um pouco à frente do petista (30%). Na sondagem do Ibope divulgada sábado, Pinheiro tem 35%, Lídice 32% e Borges, 29%.

- Estava certo de que, compondo com Geddel, estava também compondo com o Lula. Houve uma quebra de compromisso – reclama Borges.

Embora sustente que se mantém com Dilma, Geddel não esconde o descontentamento.

- A ministra Dilma esteve aqui na minha convenção, foi recebida por mais de 15 mil pessoas. Declarou que a postura era de neutralidade, porque havia dois palanques na Bahia. Esperávamos o que ocorreu em 2008, quando PT e PMDB disputaram a eleição (em Salvador) e não houve envolvimento de ninguém – afirma, não escondendo a mágoa. – Não mudei de posição, sou uma pessoa de honrar compromisso.

Bahia afora, prefeitos admitem a debandada. Coordenador da campanha de Geddel em 21 municípios que somam 380 mil habitantes, Reinaldo Braga Filho, de Xique-Xique, explica que não há como evitá-la:
- As lideranças compreendem melhor essa posição (de manter o apoio a Dilma). Mas a militância não absorve assim. Acha que ela não merece voto de confiança e tende a votar Marina.

Sem Lula e Dilma, Geddel também não pode contar com o prefeito de Salvador, João Henrique (PMDB), como cabo no maior colégio eleitoral baiano. Reeleito em 2008 numa disputa apertada com Pinheiro, ele amarga baixos índices de popularidade e não mantém mais bom relacionamento com o ex-ministro. Em pesquisa Datafolha divulgada em julho, o peemedebista é o mais mal avaliado entre os prefeitos de sete capitais. Na visita de Lula a Salvador, quarta-feira, foi vaiado duas vezes pela população no palanque. Não por acaso, Geddel se mantém distante na campanha.

- Sou uma pessoa completamente diferente (de João Henrique). Você tem linhas gerais partidárias, mas cada um implementa no Executivo o seu estilo. Eu, prefeito, faria coisas diferentes.

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